"Eu posso amar o mundo e não possuí-lo."
É muito bom quando um ator resolve sair da zona de conforto e tenta coisas novas, esse é o caso de Ben Stiller. Ele sempre foi um bom ator, expressivo e carismático e, provou isso em Caindo na Real (1994) sua primeira experiência na direção, Os Excêntricos Tenenbaums (2001) de Wes Anderson. De 2010 pra cá, o ator tem feito projetos menores , digamos, mais "originais", desde O Solteirão (2010), sua primeira parceria com Noah Baumbach , "A Vida Secreta de Walter Mitty" de 2013 no qual voltou a direção depois do sucesso estrondoso de "Trovão Tropical" em que também roteirizou/produziu/atuou e dirigiu, passando por "Enquanto Somos Jovens" 2015 sua segunda parceria com Baumbach, até esse "O Estado Das Coisas" ( Não confundir com o filme de Wim Wenders ) de 2017 . Aliás, 2017 foi um bom ano para Stiller, já, que, também esteve no ótimo " Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe". Em " O Estado Das Coisas", o diretor Mike White propõe uma reflexão sobre a armadilha das comparações de estilos de vida e alfineta a classe média americana e seu "american way of life" ao criar um retrato fiel de suas dúvidas , angústias e frustrações . Em suma: o que é o fracasso? Será que damos importância demais para coisas erradas?
SINOPSE
Próximo de completar 50 anos, Brad Sloan ( Ben Stiller) tem um emprego estável, uma casa confortável em Sacramento (Califórnia), uma esposa amorosa e um filho talentoso (Austin Abrams) , com quem vai visitar possíveis universidades. Mas Brad não consegue parar de se comparar com antigos companheiros que encontraram riqueza e fama trabalhando no mercado financeiro, em inovações tecnológicas ou no mundo da política. Por que a grama dos amigos é sempre mais verde? Esse é o enredo de O Estado das Coisas, segundo longa-metragem para cinema dirigido por Mike White.
Com a narração em off do protagonista, entendemos exatamente o que se passa em sua mente, mergulhando em suas dúvidas e nos aproximando mais do personagem. Graças a isso, Brad se torna um personagem verossímil , multidimensional, complexo , um neurótico extremamente sensível e, por vezes, um completo "babaca". Por isso, o personagem é tão crível, ele é quase um " buffet de expectativas pessoais, anseios, projeções e frustrações". Sua relação com seu filho também é alvo da obra, com cada um representando visões amplamente diferentes da vida em si.
Aqui, seguimos o olhar de Brad e suas (várias) reflexões a respeito de sua vida e como o dia-a-dia se torna tedioso, não só para ele, mas também (supostamente) para esposa e o filho Troy (Austin Abrams), a quem ele acompanha nas entrevistas de potenciais universidades que aceitarão o jovem talentoso. O protagonista está tão imerso em sua crise existencial que não percebe os dois contrapontos óbvios em sua própria casa. Sua mulher Melanie (Jenna Fischer), que é conformista ( a antítese do marido ) com a vida que leva, não se deixando abater com qualquer coisa que aconteça no dia-a-dia e seu filho Troy que mesmo no momento importante da vida, não senti pressão em ter todas as respostas e certezas agora.
Ao longo do filme, ele é atormentado por pensamentos sobre o sucesso de seus antigos amigos da faculdade, porque todos eles são ricos e famosos. São eles: o escritor e político de Michael Sheen, o empresário de sucesso de Luke Wilson, um playboy aposentado vivido por Jemaine Clement e o diretor de cinema interpretado por Mike White, diretor do longa.
Ao longo do filme, ele é atormentado por pensamentos sobre o sucesso de seus antigos amigos da faculdade, porque todos eles são ricos e famosos. São eles: o escritor e político de Michael Sheen, o empresário de sucesso de Luke Wilson, um playboy aposentado vivido por Jemaine Clement e o diretor de cinema interpretado por Mike White, diretor do longa.
Sim, Brad está obcecado com o que ele não tem, e não com o que ele conquistou, e vê seus problemas de homem branco , de meia idade, do primeiro mundo como sintomas de uma vida de fracasso, de chances e oportunidades perdidas. Em determinado momento do longa, o protagonista Brad, finalmente decide confessar o que vem lhe atordoando há tempos: “Veja meus amigos, estão todos em melhores situações do que eu. Um tem seu próprio jato particular, o outro vive aparecendo na televisão e o terceiro se aposentou antes dos 40 anos. Olhe pra mim, o que eu consegui?”. Como resposta, sua interlocutora, uma garota que é amiga ( vivida pela atriz Shazi Raja) do filho dele e que o conheceu neste mesmo dia, lhe dá um tapa de realidade: “Você? Você tem tudo. Uma boa casa, família, um emprego que faz a diferença nas vidas de milhares de pessoas, uma esposa que lhe ama e um filho exemplar. O que mais você quer?”. Seria esse o tapa na cara que Brad precisava para voltar a realidade?
"O Estado Das Coisas " desenvolve bem os seus personagens ao mostrar a visão parcial de Brad sobre seu mundo e seus constantes "choques de realidade" ao longo da trama. Por vezes, o filme é uma análise sobre a nossa percepção do fracasso, insegurança e da dúvida existencial . Se você espera respostas, sairá, com o perdão do trocadilho, frustrado. Não é um filme de autoajuda, ele não te dá as respostas, levanta questões ancorado na bela performance de Stiller e Austin Abrams (Cidades de Papel, 2015) que interpreta seu filho. Existe uma química entre os dois atores, e, graças a isso, você acredita na relação entre pai e filho. Luke Wilson, Jemaine Clement e, principalmente, Michael Sheen, são participações curiosas, mas , infelizmente são mal aproveitados no filme. Fiquei interessado em ver o ponto de vista desses personagens.
Tirando esse deslize, aqui vão as minhas palmas para o ator, roteirista e diretor Mike White, que faz um belo estudo de personagem através da ( já citada) narração em off. Com a trilha sonora de Mark Mothersbaugh que é fantástica e delicada, e ,uma montagem bem realizada que soube encontrar o timing perfeito para envolver a plateia a história. Ele conduz a narrativa muito bem, com alívios cômicos pontuais, sendo um filme direto, honesto, simples, absurdamente sincero, inteligente e surpreendentemente maduro.White acompanha a crise existencial de Brad, sua crise de meia-idade e sua visão "torta" da vida, sem apelar para um desfecho fantasioso. Pelo contrário, ( como já foi dito) ele não oferece respostas e as situações são ancoradas na realidade, o personagem é a alegoria perfeita da classe média americana frustrada por não ser rica ( algo similar a classe média de um certo país tupiniquim). A crítica ferrenha está lá, com todas as letras saindo da boca da personagem com quem Brad resolve desabafar.
Ao final do filme, Brad diz: “ Concluo que posso amar e admirar aquelas garotas sem jamais possuí-las.” , White carimba isso através dessa metáfora dita pelo personagem principal. O filme é quase a definição perfeita da frase "White people problem" ( problemas de gente branca ) . No balanço geral, o filme é cativante, brincalhão, melodramático e um grande reconhecimento do privilégio branco e masculino, é uma autocrítica direta e muito madura. O longa consegue essa proeza, justamente por ser honesto com o espectador o tempo inteiro, é um prazer do início ao fim. O Estado Das Coisas é um dos melhores trabalhos de Stiller em muitos anos, sentimos isso na tela, o ator está a vontade no filme , o que, é bem diferente de seu marcante desconforto em Zoolander 2 (2016) por exemplo. Espero que Ben Stiller continue a nos surpreender, até aqui, tem dado muito certo.
🎬 :★★★★
O Estado das Coisas (Brad’s Status) EUA, 2017
Direção: Mike White
Roteiro: Mike White
Elenco: Ben Stiller, Austin Abrams, Jenna Fischer, Michael Sheen, Jemaine Clement, Luke Wilson, Shazi Raja, Mike White
Duração: 102 min
Direção: Mike White
Roteiro: Mike White
Elenco: Ben Stiller, Austin Abrams, Jenna Fischer, Michael Sheen, Jemaine Clement, Luke Wilson, Shazi Raja, Mike White
Duração: 102 min