🎬 :★★★★★
Direção: Matt e Ross Duffer
Elenco: Winona Ryder , David Harbour ,Noah Schnapp, Finn Wolfhard , Millie Bobby Brown , Gaten Matarazzo , Caleb McLaughlin , Natalia Dyer, Charlie Heaton, Joe Keery, Sadie Sink, Sean Astin , Dacre Montgomery e Brett Gelman
Se você estava preocupado(a) com a qualidade da segunda temporada de Stranger Things, fique tranquilo(a), apesar de alguns deslizes, a série mantém o alto nível em seu segundo ano. A segunda visita a cidade de Hawkins é tão incrível como no ano passado, só que, dessa vez, com MUUUUIIIITAAAAS referências, altas doses de humor, suspense, terror e muita cultura pop na veia. Mesmo não divulgando seus números de audiência, é certo que Stranger Things se tornou o "carro-chefe" do serviço de Streaming e, não é atoa que a série dos irmãos Duffer ganhou milhões de fãs mundo afora, cientes desse fato, tanto os diretores quanto a Netflix não poderiam decepcionar no segundo ano. E o resultado é fantástico.
A nova temporada se passa aproximadamente um ano depois dos acontecimentos dos primeiros episódios . Como dizia em seus cartazes promocionais " Maior, melhor e mais sombrio", logo de cara os irmãos Duffer (criadores da série) nos premiam com uma cena de abertura em Pittsburg, uma perseguição de carros, expandindo o universo apresentado na primeira temporada e mostrando que teremos a mitologia em torno da criação da Eleven explorada, assim como o tal "mundo invertido".
Já Will tenta seguir sua vida com o apoio dos amigos Mike (Finn Wolfhard), Dustin (Gaten Matarazzo) e Lucas (Caleb McLaughlin), embora sofra com o lado cada vez mais super-protetora da mãe (Winona Ryder), com o bullying no colégio e, é claro, com as visões do Mundo Invertido, que estão cada vez mais frequentes. Ao mesmo tempo, o xerife Hopper (David Harbour) investiga o fato de que plantações locais estão apodrecendo misteriosamente, deixando no ar o clima de que algo está para acontecer.
A série começa bem e, aos poucos vai ganhando ritmo, enquanto somos bombardemos por referências da cultura pop, de Stephen King a Steven Spielberg, passando por Exterminador do Futuro, Tubarão, Star Wars, Aliens - O Resgate, Gremlins, Contatos Imediatos do Terceiro Grau, Os Goonies, E.T. e Caça-Fantasmas, de Scorpions a The Police, isso para citar algumas de dezenas. Aliás, esse é um dos poucos problemas dessa temporada, se o grande mérito da primeira era a sutileza nas referências, nessa soa um pouco forçado. O melhor seria um certo equilíbrio.
Somos apresentados a quatro novos personagens, os irmãos Maxine(Sadie Sink) e Billy (Dacre Montgomery) , Bob Newby (o eterno Goonie Sean Astin ) interesse amoroso da mãe de Will ( Winona Rider) e Murray Bauman (Brett Gelman) do qual falarei mais adiante . Maxine ou Max, é a garota ruiva e arisca, recém chegada à escola na qual estudam os moleques e já desestabiliza o mundo dos garotos ao bater recordes no FLIPERAMA “Dragon’s Lair”. Max ganha o público com facilidade, mostrando ser uma garota forte e decidida, por isso, seu nome faz referência ao primeiro episódio dessa temporada. Já seu irmão Billy é o valentão, o vilãozinho do mundo real. Ele faz o típico jovem delinquente disposto a causar problema , com tudo e com todos. A família deles é um caos total, eu entendo que o real propósito dos dois no enredo era tocar em um tema sério como abuso doméstico mas, infelizmente, não funcionou na trama. A própria série trata logo de abandonar a premissa.
Bob Newby e irmãos Billy e Maxine |
Caso, a série desse mais espaço para a jovem Max e cortasse Billy da história, seria mais bem sucedida, o jovem não acrescenta em nada ao enredo, não faz história girar, a cena em que ele flerta com a mãe de um dos garotos é igualmente descartável. O Bob Newby de Sean Astin tem um arco bem trabalhado, mesmo que sutil e, se você é fã dos anos 80, sabe o peso que Astin teve na década e o porque dele estar aqui. Poxa, o cara é um Goonie, precisa dizer mais? Completando as novas adições temos Murray Bauman (Brett Gelman), o cara da teoria da conspiração, o "malucão das teoria" , cujo o proposito é reparar um grande erro cometido na primeira temporada. É fã de Stranger Things ? Então, você já sabe o que é.
Os irmãos Duffer sabem que a grande força da primeira temporada foi a união das crianças. Aqui, isso é quebrado logo de cara , com a formação de alguns grupos improváveis em meio a ação. Forçando os personagens a interagir com o mundo de outra forma. E a ideia dos roteiristas funciona, porque, isso gera mais expectativa e, quando as crianças se juntam novamente o resultado é sensacional. A força da série são essas relações entre os personagens e seus diálogos.
Todos os arcos dos protagonistas funcionam bem, em especial o arco de Will. Aqui, o jovem Noah Schnapp pôde mostrar um pouco mais o seu trabalho, já que na primeira temporada ele era o garoto desparecido. Sua dinâmica com Mike (Finn Wolfhard) funciona e ambos tem boas histórias.A jornada de Lucas (Caleb McLaughlin) também me agradou muito, não curti sua participação na primeira temporada, por vezes o personagem me pareceu um pouco chato. Dustin (Gaten Matarazzo) segue sendo o alívio cômico e sua história foi bem contada ( o final é impagável! ). A participação do triângulo adolescentes Nancy (Natalia Dyer), Jonathan (Charlie Heaton) e Steve (Joe Keery) é muito boa. Nancy cresceu muito na série, em alguns momentos chegando a liderar certas situações. David Harbour também tem seus momentos de brilhantismo interpretando o Xerife Jim Hopper, que serve como o elo entre as tramas paralelas da série. E o mais legal, todos tem o mesmo tempo de tela.
Tecnicamente, a série é SENSACIONAL. O design de produção da série é primoroso, desde os ambientes residenciais, a escola, os comercias de tv, os carros, as roupas, e o laboratório de Hawkins, tudo parece ter saído dos filmes dos anos 80, TUDO. Notaram como o pai do Mike se parece com o Max de "Garotos Perdidos" ?
Caso você seja fã dos filmes dos anos 80, vai ver muitas homenagens em diversos personagens da série, em cada objeto usado em cena, de simples óculos a carros da época. Ponto para a impecável direção de arte. O roteiro poderia ser melhor trabalhado evitando algumas "barrigas", mas nada que comprometa a segunda temporada. No balanço final, a história é bem amarrada e responde as perguntas da temporada anterior, mas deixa outras. Por exemplo, qual era a motivação do Dr. Owens (Paul Reiser) e, pq ele era tão "sociável"?
Pai do Mike e senhor Max do filme "Garotos Perdidos" |
A edição é bem feita, causando tensão na hora certa e risadas em outras. A fotografia é um grande tesouro de Stranger Things , a ambientação do clima remete diretamente a filmes de Spilberg ao mostrar a colorida Hawkins dando lugar ao sombrio mundo invertido, nessa hora a paleta fica azulada. Em vários momentos o laboratório parecia saído daqueles filmes de terror oitentista. Outra força da série reside sua trilha sonora que, aqui, se transforma em um personagem marcante, a alma dos anos 80 está lá, desde "Rock You Like a Hurricane" dos Scorpions, passando por "Thriller" de Michael Jackson e, encerrando com "Every Breath you Take" do The Police. A Netflix liberou o álbum com as 34 músicas inéditas compostas especialmente para série. As canções foram escritas por Kyle Dixon e Michael Stein, dois dos membros da banda S U R V I V E. A trilha da série usa diversos sintetizadores para conseguir melodias assustadoras que ajudam a desenvolver a trama. Como eu disse, ela é quase um personagem.
Se a série tem dono(a), o nome dela é Millie Bobby Brown, a Eleven, se "E.T. - O Extraterrestre" fez Drew Barrymore uma pequena estrela nos anos 80, "Stranger Things" fez o mesmo por Millie. A personagem da garota é o cerne da série e, a atriz mostra porque é a líder do elenco, sua atuação não deve em nada aos veteranos da série, mostrando que tem um futuro incrível pela frente. Mesmo no sétimo episodio que, parece não ter muito a ver com a série ( talvez de propósito) , a garota mostra a que veio. Passando emoção com um simples olhar, Millie destoa dos outros atores, tamanho a sua presença. Aliás, todo o seu arco é bem resolvido, assim como sua relação com dois personagens da série. Muitos queriam que o último frame(ao som de "Every Breath You Take") fosse alongado, já que o momento gerou certa expectativa desde a primeira temporada. Sim, o melhor da série se concentra nos dois capítulos finais. E nele, Eleven reina absoluta.
Millie Bobby Brown em Stranger Things e Drew Barrymore em E.T. - O Extraterrestre |
Notou que comentei sem dar muitos SPOILERS, né ? Stranger Things é isso, também. Expectativa. Vivi algo parecido quando lançaram os filmes do "Pânico" em 1996, o mantinha o interesse no público era jornada dos personagens e saber quem era o assassino. Ao final, a segunda temporada é sobre o amadurecimento dos personagens e a perda da inocência. Mostrando que o nosso mundo pode não ser tão colorido como um arco-íris, nem tão frio, sombrio e escuro como o "Mundo invertido" e, sim, um equilíbrio entre os os dois. Como se os criadores dissessem a eles que, nem tudo é preto e branco e, que, ser diferente é normal. Stranger Things abraça os "excluídos " . Agora, nos resta esperar, para saber o que os Duffers e a Netflix preparam para o próximo ano. Que o nível se mantenha.
A primeira temporada de Stranger Things já está disponível na Netflix. Os novos capítulos estrearam em 27 de outubro.