Polanski explora a linha tênue entre amor e ódio, desejo e obsessão.
🎬 :★★★★★
Dirigido por: Roman Polanski.
Com : Hugh Grant, Kristin Scott Thomas, Emmanuelle Seigner, Peter Coyote.
"A dança tem de vir do coração e o meu coração está partido." diz a certa altura a personagem Mimi no longa-metragem Lua de Fel (Bitter Moon) de 1992 filme interessantíssimo de Roman Polanski. As vulgaridades são bem colocadas e precisas. A história narrada por um dos protagonistas é excelente. Resta saber se é verdadeira ou não.Na história, durante um cruzeiro, Nigel (Hugh Grant) conhece um escritor paraplégico chamado Oskar (Peter Coyote). A partir desse primeiro contato, Oskar começa a contar-lhe um livro que está escrevendo, uma autobiografia, na qual relata sua vida com uma mulher estonteante (Emmanuelle Seigner) e as conseqüências desta relação.
Mimi ,vivida pela atriz Emmanuelle Seigner, que interpretou a Titine em "Piaf - Um Hino ao Amor" está ótima! O paraplégico Oskar e mais uma magnifica interpretação de Peter Coyote, que é um dos grandes atores do cinema e que pouco tem sido reconhecido.Com pouco tempo em cena, a talentosa Kristin Scott Thomas vive a entediada Fiona, para quem o momento mais excitante da viagem é uma conversa com um desconhecido no bar, que serve de aviso para seu distante marido (“Não há nada que você faça que eu não faça melhor”, ameaça). Observe o olhar ameaçador de Fiona para Nigel quando diz para o rapaz no bar o dito popular “azar no jogo, sorte no amor”, insinuando que não hesitaria em trair o marido caso ele continuasse agindo daquela maneira. Interpretado por Hugh Grant, o tímido Nigel é o típico homem de família inglês, sempre polido e educado, mas incapaz de se conter diante da insinuante Mimi. O ator demonstra bem a luta constante de Nigel para não demonstrar interesse no que ouve, enquanto claramente se mostra cada vez mais interessado nos detalhes mais obscenos da relação entre Oskar e Mimi (vale citar o engraçado momento em que Nigel se mostra incomodado com os detalhes escatológicos da história que ouve).
Uma história contada por dois ângulos diferentes que faz com que você ame e odeie os personagens centrais.É dado ao homem o poder e desejo( o filme deixa claro), vejo nos personagens centrais,um narcisismo exarcebado. E eles pagariam quaisquer preço para satisfação de seus desejos.O caçador (Tigre) não viraria presa, de um amor,mas tomaria outro como objeto para satisfação de seus desejos. O ser humano destrói o outro com palavras, e se o outro está vulnerável com atitudes práticas (Mimi paralisa o amado, e Nigel dopa a mulher), pois o desejo de sucumbir o outro como objeto é maior do que o amor. A saga de ambos casais é montada de uma maneira soberba. Belas imagens (como a do carrossel) contrastam com não tão belas e o estado de espírito das personagens, evoluindo, degradando, sendo construída, é dual e irônica. Polanski brinca com o que chamamos de amor e só mostra que isso é um produto do ódio, ódio de si mesmos. O sentimento em questão é na verdade uma busca por outra a quem possa depender para ser feliz e realizado, e sem precisar ser pessimista, isso é feito.
O que mais me chama atenção no filme é a natureza fetichista e sádica que todos os personagens afloram em determinadas situações. Todos tem, e realizam, desejos inusitados que atingem diretamente o olhar do que estão involvidos na trama – e do espectador – numa especie de vouyerismo, onde se deliciam – e nós também nos deliciamos – nas ações dos que estão sendo vistos. Mimi navega por todas as relações e é uma espécie de pivô para os fetiches dos outros. Primeiro sua relação com Oskar, explorada de cabo a rabo. Em segundo Nigel, com joguinhos e provocações sem rendimento. E em terceiro Fiona – oh, Fiona – explorando um relacionamento lésbico relâmpago, que dentre todos o mais importante, pois serviu de objeto de vingança para ambas as garotas.
Com uma fotografia impressionante de tão bela,trilha sonora de Vangelis e atuações fortes por parte de Peter Coyote e Emmanuelle Seigner, essa mostrada em sua totalidade e realmente se entregando ao personagem, e uma trilha sonora incrível (assinada pelo mestre Vangelis), Lua de Fel não chega a ser o filme definitivo sobre o amor. Mas é um dos que melhor mostrou suas implicações e conseqüências.
O filme é recheado com ótimos diálogos, cenas picantes que caminham com uma ótima direção entre a linha tênue da vulgaridade e o erotismo.Como todo filme de Polanski, Lua de Fel é a demonstração clara existente entre o amor e o ódio, como se combinam e como se destroem.O mais engraçado é o ar cosmopolita do filme, com várias personagens de várias partes do mundo, dizendo que o amor é universal. Irônico, não? Levando em consideração tudo o que mostrou no filme…
Forte e incrível do início ao fim, mas ainda aquém de outras obras primas de Roman Polanski, Lua de Fel é imperdível. Um ótimo filme, totalmente despudorado!
🎬 :★★★★
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Notas do Editor